Hoje, o jornal Folha de São Paulo, em artigo escrito por Claudia Collutti, noticiou um caso de um brasileiro que sofreu um infarto agudo do miocárdio em 2008. Na fase aguda do evento, esse indivíduo sofreu 70 paradas cardíacas e todas elas foram revertidas prontamente. Hoje ele está vivo e seguindo sua rotina. Estar no hospital e ter sido muito bem tratado em todas elas, além de sorte foram determinantes para o sucesso, disse o médico cardiologista entrevistado, Dr. Sergio Timmerman. Mas, afinal, qual é a relação entre o infarto agudo do miocárdio e a parada cardíaca?
O coração é um músculo que relaxa e contrai devido ao seu automatismo elétrico. Para garantir esse funcionamento perfeito, depende do sangue oxigenado que chega através das artérias coronárias e nutre as células cardíacas. Essa interação eletro-mecânica nutrida pelo sangue arterial, pode sofrer sérios danos em determinadas doenças. O principal exemplo é o infarto agudo do miocárdio, que é caracterizado pela obstrução aguda do fluxo sanguíneo nas coronárias. Isso compromete a nutrição das células do coração e as consequências são, muitas vezes, desastrosas. Há prejuízo na função mecânica de relaxamento e contração, além de predispor a problemas elétricos gravíssimos como bloqueios e arritmias malignas (arritmias que levam a parada cardíaca).
O infarto agudo do miocárdio é a doença que mais mata no mundo. Cerca de 50% das pessoas que sofrem dessa doença não chegam ao hospital com vida devido à ocorrência de arritmias malignas associadas. Portanto, ao suspeitar de infarto, a rapidez da procura por um serviço de saúde é fundamental. No hospital, essas arritmias são reconhecidas com facilidade e o tratamento (choque) pode ser realizado com eficácia. Foi o que ocorreu no caso citado pelo jornal Folha de São Paulo, por 70 vezes. Além dessa intervenção salvadora, a rapidez no reconhecimento do infarto possibilita abrir a artéria precocemente e causar menos danos mecânicos no músculo cardíaco.
O tratamento do infarto agudo do miocárdio está muito avançado. As estratégias de tratamento estão muito bem protocoladas e a principal medida é desobstruir a artéria. No caso citado, as arritmias malignas que levaram à parada cardíaca ocorreram antes da abertura da artéria. Entretanto, elas também podem ocorrer depois, principalmente nas primeiras 48 a 72 horas do evento. Isso explica uma dúvida muito frequente das pessoas – “Doutor, porque meu familiar tem que ficar na unidade de terapia intensiva se já abriu a artéria e não está sentindo mais nada?”. Na verdade, esta é justamente uma das principais medidas após a abertura da artéria, que é a monitorização cardíaca intensiva por 48 a 72 horas.