A cirurgia cardíaca mais conhecida é a “cirurgia de ponte de safena”. Essa denominação popular é conhecida no meio médico como cirurgia de revascularização miocárdica, que ainda é muito utilizada em casos de doença avançada das artérias coronárias. Pessoas com obstruções importantes, principalmente quando as 3 principais artérias coronárias estão acometidas concomitantemente, são as maiores candidatas à “cirurgia de ponte de safena”. Quero deixar claro que a decisão médica de indicar essa cirurgia contempla diversos fatores, não somente a presença das obstruções, e nesse breve texto quero mostrar um panorama geral e compreensível para nossos leitores não médicos, sobre o universo da “cirurgia de ponte de safena”. O prejuízo da função de contração do coração e a presença de sintomas limitantes (dor no peito e falta de ar aos esforços habituais) são os principais fatores que favorecem a indicação cirúrgica nos pacientes com obstruções nas artérias coronárias.
A “cirurgia de ponte de safena” também utiliza a veia safena (veia de drenagem dos membros inferiores) para realizar as pontes. Uma extremidade do segmento de veia safena é conectada nas porções iniciais da aorta (grande artéria que sai do coração) e a outra extremidade é conectada na artéria coronária comprometida, porém após o local de obstrução. Atenção! Não se meche no local obstruído. A ponte de safena desvia o fluxo de sangue que passa pela obstrução, o que chamamos de revascularização. Outros vasos do corpo podem exercer o mesmo papel da veia safena e serem utilizados como pontes para desviar o fluxo de sangue. Contudo, um vaso merece destaque na “cirurgia de ponte de safena”, a artéria mamária, tecnicamente chamada de artéria torácica interna. Esse vaso, de certa forma é mais importante do que a veia safena porque tem uma durabilidade maior e, por isso, geralmente é utilizado para desviar o fluxo da principal artéria do coração quando obstruída. Essa, é a tão importante artéria descendente anterior que sozinha é responsável por nutrir cerca de 60% do músculo cardíaco. Ao utilizar a artéria mamária não é necessário retirar um segmento dela e conectar ambas as pontas. A extremidade inicial permanece conectada na sua origem e a extremidade final é desviada e conectada na artéria coronária (geralmente na artéria descendente anterior) após a obstrução, evitando manipular a aorta.
Você se perguntou porque que a cirurgia de revascularização miocárdica é famosa pela denominação “cirurgia de ponte de safena”, se o vaso principal utilizado não é a veia safena ? Essa é fácil. Nos primórdios dessa cirurgia entre as décadas de 60 e 70 só era utilizado a veia safena e a evolução técnico-científica na área da cirurgia cardiovascular possibilitou utilizar-se da artéria mamária e outros vasos. Dizem que a primeira impressão é a que fica, pois bem, aí vai mais um exemplo.
A “cirurgia de ponte de safena” em sua maioria, é realizada com o coração parado e para isso o sangue é desviado para uma máquina externa responsável pela oxigenação do sangue e retorno para o corpo sem passar pelo coração e pulmões. Essa máquina chamada de circulação extracorpórea foi a grande responsável pelo avanço da cirurgia cardíaca ao longo dos últimos 40 anos. Atualmente alguns casos selecionados são operados sem utilizar a circulação extracorpórea e portanto evitando as complicações inerentes ao método.
Os benefícios da cirurgia, quando bem indicada, são evidentes e objetivam atingir satisfatoriamente duas máximas da cardiologia, sobrevida e/ou qualidade de vida. No entanto, como todo procedimento médico, a “cirurgia de ponte de safena” pode ter complicações. Por ser um procedimento de alto risco, requer cuidados intensivos no pós operatório e manejo clínico refinado em local com estrutura adequada e profissionais habituados aos cuidados desse tipo de paciente. Na verdade, o grande segredo é a indicação precisa da cirurgia, pesando riscos e benefícios, que devem estar claros na relação médico-paciente-família.